Entrevista especial
Osvando J. de Morais é professor formado em Letras/ Russo pela Universidade de São Paulo (USP), e leciona na Universidade de Sorocaba (UNISO) há aproximadamente dois anos. Seus trabalhos de Mestrado e Doutorado tratam de temas ligados à literatura brasileira e suas migrações para outros meios de comunicação. Em seu livro Grande Sertão Veredas: O romance transformado, o professor apresenta a primeira parte simplificada da conclusão de cinco anos de pesquisa para sua tese de Doutorado. O resultado é uma profunda análise da elaboração de um roteiro televisivo, tomando como base o trabalho do cineasta e roteirista Walter George Durst. Na entrevista que concedeu ao ENSAIO, o professor fala sobre a obra de Guimarães Rosa, literatura e o interesse do jovem pela leitura.
ENSAIO: Existe alguma particularidade na escolha de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa?
Osvando Morais: Existe. Na literatura brasileira contemporânea, ele é o autor mais importante, como autor que reinventa a linguagem e, sobretudo, é muito difícil. Porque ao mesmo tempo que ele se preocupa com a fábula, como romancista no primeiro momento, no segundo momento ele é um grande poeta e no terceiro é um esplendido filósofo. Portanto tudo aquilo que eu buscava como literatura, linguagem, poesia, filosofia, encontrei nesta obra. Além do livro já ter sido transposto para outro meio de comunicação, a televisão.
ENSAIO: O sr. acredita que a transição de uma obra literária para outro meio de comunicação desperta o interesse das pessoas pelo seu conteúdo?
Morais: Há três formas de interesse pelo livro. Há aquele leitor que vê a imagem na tela e busca o livro para reconstruir a referência vista, há aquele leitor de imagem que se contenta com o conteúdo televisivo e há aquele que lê o livro e se recusa a qualquer forma de reprodução.
ENSAIO: Nesse processo, a obra perde o seu valor original?
Morais: Há perdas. Sempre há perdas, mas quais são as perdas e os ganhos? Em que medida o leitor ganha lendo a obra e o telespectador perde assistindo a minissérie? Foram essas questões que eu comecei a abordar desde a graduação até o Doutorado. Nós vivemos um outro momento do livro. Penso que a adaptação de um texto literário nada mais é que o livro na tela, traduzido intersemioticamente.
ENSAIO: Na sua opinião, como está o interesse do universitário pela leitura?
Morais: O jovem está descobrindo o prazer da leitura. Acredito que uma grande parcela dessa responsabilidade pelo desinteresse em relação à leitura é dos professores em sala de aula. Porque aquele professor que passa a literatura com empolgação, inspira o aluno a ler. Se ele desperta o aluno para buscar o prazer da leitura, terá feito seu papel.
(Foto: Ana Carolina Bonando)