Tuesday, November 29, 2005

Entrevista especial


Osvando J. de Morais é professor formado em Letras/ Russo pela Universidade de São Paulo (USP), e leciona na Universidade de Sorocaba (UNISO) há aproximadamente dois anos. Seus trabalhos de Mestrado e Doutorado tratam de temas ligados à literatura brasileira e suas migrações para outros meios de comunicação. Em seu livro Grande Sertão Veredas: O romance transformado, o professor apresenta a primeira parte simplificada da conclusão de cinco anos de pesquisa para sua tese de Doutorado. O resultado é uma profunda análise da elaboração de um roteiro televisivo, tomando como base o trabalho do cineasta e roteirista Walter George Durst. Na entrevista que concedeu ao ENSAIO, o professor fala sobre a obra de Guimarães Rosa, literatura e o interesse do jovem pela leitura.
ENSAIO: Existe alguma particularidade na escolha de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa?
Osvando Morais: Existe. Na literatura brasileira contemporânea, ele é o autor mais importante, como autor que reinventa a linguagem e, sobretudo, é muito difícil. Porque ao mesmo tempo que ele se preocupa com a fábula, como romancista no primeiro momento, no segundo momento ele é um grande poeta e no terceiro é um esplendido filósofo. Portanto tudo aquilo que eu buscava como literatura, linguagem, poesia, filosofia, encontrei nesta obra. Além do livro já ter sido transposto para outro meio de comunicação, a televisão.
ENSAIO: O sr. acredita que a transição de uma obra literária para outro meio de comunicação desperta o interesse das pessoas pelo seu conteúdo?
Morais: Há três formas de interesse pelo livro. Há aquele leitor que vê a imagem na tela e busca o livro para reconstruir a referência vista, há aquele leitor de imagem que se contenta com o conteúdo televisivo e há aquele que lê o livro e se recusa a qualquer forma de reprodução.
ENSAIO: Nesse processo, a obra perde o seu valor original?
Morais: Há perdas. Sempre há perdas, mas quais são as perdas e os ganhos? Em que medida o leitor ganha lendo a obra e o telespectador perde assistindo a minissérie? Foram essas questões que eu comecei a abordar desde a graduação até o Doutorado. Nós vivemos um outro momento do livro. Penso que a adaptação de um texto literário nada mais é que o livro na tela, traduzido intersemioticamente.
ENSAIO: Na sua opinião, como está o interesse do universitário pela leitura?
Morais: O jovem está descobrindo o prazer da leitura. Acredito que uma grande parcela dessa responsabilidade pelo desinteresse em relação à leitura é dos professores em sala de aula. Porque aquele professor que passa a literatura com empolgação, inspira o aluno a ler. Se ele desperta o aluno para buscar o prazer da leitura, terá feito seu papel.


(Foto: Ana Carolina Bonando)

Sunday, November 27, 2005

Prevenção contra osteoporose deve começar na infância

Claudia Albertin


Para começo de conversa, responda: você já quebrou algum osso, alguma vez? Se a reposta for sim, fique atenta, pois seus ossos foram projetados para suportar tombos. Fraturas só se justificam em grandes traumas, como um acidente de carro. Se por acaso, já quebrou uma perna ou um braço, não quer dizer que você tenha osteoporose, mas, é um sinal da doença.
Por enquanto, a osteoporose ainda não tem cura, então, a arma mais poderosa é a prevenção. Os médicos acreditam que a prevenção deve começar na infância e adolescência, com prática de esportes e alimentação balanceada. Assim, é possível desenvolver uma massa óssea suficiente para suportar a perda do cálcio.
A osteoporose, redução de massa óssea, é uma doença que atinge mulheres, homens e inclusive crianças. É a partir da infância que seus ossos estão se desenvolvendo. A formação da massa óssea é mais acelerada entre 12 e 16 anos nas meninas, ou 15 e 18 anos nos meninos. Portanto, esse é um bom momento para investir em sua saúde, acumulando bastante massa.
O que garante a acumulação de massa óssea, para a construção do esqueleto é uma boa alimentação, exercícios físicos regulares e passeios ao sol. Um estudo da Universidade de Turku, na Finlândia, investigou por três anos o efeito da atividade física sobre os ossos de 171 meninas de 9 a 15 anos, ginastas, corredoras e sedentárias. As garotas fisicamente ativas tiveram um aumento de massa óssea superior.
Segundo o especialista em fisiologia da educação Luiz Eduardo dos Santos, os exercícios recomendados para inibir a perda óssea e ajudar na reabsorção do cálcio pelo osso, são a musculação e atividades de impacto, como corrida, caminhada e salto, pois esses exercícios causam tensão muscular, facilitando a absorção de cálcio. “No entanto, esses treinos só são indicados para quem não tem ainda osteoporose, por isso durante a adolescência e na infância é recomendável investir em algum exercício para evitar doenças como a osteoporose”, comenta.
De acordo com o nutrólogo, Luiz Roberto Queroz, é durante a infância e principalmente na adolescência que se previne à osteoporose da menopausa e terceira idade. Se a criança se alimenta bem, pratica exercícios, passeia ao sol pela manhã, quando chegar à terceira idade, provavelmente, não terá osteoporose. “O cálcio desempenha importante papel no crescimento e desenvolvimento normal dos ossos e dentes. O principal local de armazenamento do cálcio são os ossos.” garante o nutrólogo.
Queroz ainda explica que o cálcio é encontrado principalmente no leite, para quem não gosta da bebida, há outras opções, como queijos, coalhadas, iogurte, brócolis, agrião, couve, espinafre, sojas ou até mesmo nos peixes, como a sardinha. Além da alimentação, o sol também entra para a prevenção, pois ele é capaz de fixar a composição de vitamina D. “Deve-se estimular a ingestão de grande quantidade de leite e derivados, evitar fatores de risco como álcool, fumo e praticar exercícios físicos. Dependendo da idade, a necessidade diária de cálcio é variável”, ressalta.
Segundo a revista Saúde, publicada em Junho de 2004, Cientistas da Universidade de Genebra, na Suíça, notaram que o ganho de massa óssea era mais acelerado em meninas de sete anos que ingeriam dois alimentos com suplementos de cálcio por dia.
Já para quem sofre da doença, o maior desafio é evitar as fraturas, pois muitas trazem conseqüências sérias para a qualidade de vida. A reumatologista Evelin Diana Goldenberg diz que a fratura do quadril é a que oferece os maiores problemas, ela reduz a expectativa de vida entre 5 a 20%. De acordo com a reumatologista, mais de 30% das mulheres na menopausa tendem a desenvolver a doença. “Nessa fase verifica-se uma perda acelerada de 3 a 5% de massa óssea por ano. Assim, a reposição hormonal ajuda as mulheres na menopausa”, comenta Goldenberg.
Mulheres que retiram os ovários precocemente e homens com taxas baixas de estrógeno, porção de hormônios femininos, também tendem a ficar com o esqueleto frágil.













Tuesday, November 15, 2005

Carta ao Leitor

É com muita alegria que nós, alunos do quarto período de Jornalismo da Universidade de Sorocaba (Uniso), produzimos o jornal Ensaio, agora em suas mãos. Em meio a dúvidas e aprendizados, superamos dificuldades para trazer a você, leitor, matérias focadas em problemas e situações de nosso dia a dia que passam despercebidos para muitas pessoas.
É o caso da reportagem “Sorocaba fere Estatuto da Criança” que trata dos menores infratores e a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem). Para muitos, uma instituição que representa a escola da violência e da contravenção, para outros, o caminho da regeneração social, em pelo menos 85% dos casos. Com um olhar minucioso diante dessa doença crônica de nossa sociedade, a reportagem de capa mostra histórias vividas por personagens reais. E apresenta também os detalhes do Núcleo de Atendimento Integrado (NAI), uma nova alternativa que pretende solucionar o sistema de recuperação de menores.
O Ensaio também traz nesta edição um retrato da atual participação política dos universitários. Diante do delicado momento político que o país vive, e bem diferente dos outros tempos, como o impeachment de Collor, em 1994, a classe universitária tem sido pouco atuante. Será que o desinteresse vem da descrença nos personagens da política brasileira? Ou será que se trata de um comportamento individualista, característica dos tempos modernos, quando o que realmente importa ao universitário é terminar a faculdade para ganhar dinheiro? Mas será que o futuro de cada um não de pende do futuro coletivo, da sociedade, que é, de fato, representada pela classe política?
Já a editoria Especial aborda o complexo tema dos impostos. A taxa tributária brasileira é considerada a mais elevada e agressiva de todo o mundo e principal motivo de o trabalho informal crescer mais que os empregos no país. Você sabia que quando compra uma simples caneta, 48,67% de seu valor é destinado ao pagamento de tributos?
Para descontrair, a editoria de Cultura e Lazer mostra que os campings da região de Sorocaba vêm se transformando e já oferecem até restaurantes, muitas vezes até superando os hotéis. Tudo isso não só para garantir a diversão dos adeptos, como também atrair um novo público. Mas nem tudo é diversão, na matéria “Artesanato sorocabano por um fio” você confere um panorama da difícil situação dos artesãos de Sorocaba que, em nome de sua própria sobrevivência, são obrigados a exercer outras funções e a abandonar as verdadeiras raízes da cultura regional.
Boa Leitura!

Mulheres Paradoxiais - Crônica

Felipe Shikama

Se um dia encontrasse um gênio da lâmpada, com certeza eu já saberia o que pedir.
Não pediria uma mulher. Um harém? Também não.
Faria um humilde e único desejo, pois não sei quem inventou, nem onde está registrada a cláusula que determina a realização de exatos três desejos.
Mas, voltando ao desejo, desejaria apenas a capacidade de poder compreender o que se passa na cabeça das mulheres. É bem verdade que não há um chip-padrão global implantado em suas cabeças que faz com que toda espécie humana do gênero feminino deva pensar uníssona, embora se pudesse ao menos ter em mãos o esboço do mapa da esfinge já me daria por satisfeito.
Regra geral, e me desculpem as exceções, as mulheres são paradoxais. Um exemplo típico para ilustrar minha afirmação é referente a sua vaidade estética. Por exemplo, a mulher que é baixa quer ser mais alta, a mulher alta, por conseguinte, quer ser mais baixa. Já as morenas, bem, as morenas querem ser ruivas...
As ruivas de cabelos lisos preferem ser morenas de cabelos cacheados, já as loiras de cabelos cacheados preferem passar horas fazendo “chapinha alisadora”, e correndo o risco de ganhar uma queimadura na testa como o carimbo que os bois têm no lombo.
Inusitadamente, um gênio da lâmpada apareceu em meu quarto enquanto dormia e disse que eu poderia fazer qualquer pedido que imediatamente seria atendido. Prontamente pedi o que por muito tempo já havia premeditado. Compreender as mulheres.
O gênio constrangido tentava explicar que aquele desejo ele não poderia realizar:
- Desculpe- me senhor, mas se trata de um pedido impossível, um absurdo! Poderia mudaria todo o sentido do mundo! Se tal mistério fosse revelado...
Não quis mais ouvir suas embaraçosas explicações e, impaciente, eu disse:
-Tudo bem Seu Gênio, já entendi! Nesse caso, não ficaria chateado se me desse um harém, mas, por favor, traga depressa!
O gênio não voltou, e eu acordei sem nenhum desejo realizado.

Secretário da Juventude diz que jovens são excludídos, mas também são excludentes

Felipe Shikama

Secretario Municipal da Juventude, Antonio Carlos Bramante, professor licenciado da Uniso, fala da recém-criada Secretaria da Juventude e da busca por parcerias e de oportunidade para os jovens, a fim de defender uma política pública de inclusão. Bramante fala das mudanças de conceito de juventude, e ressalta que hoje os jovens são excluídos, mas também são excludentes.
Ensaio:Por que criar uma secretaria voltada para os jovens?
Bramante: A criação de uma secretaria é fruto de uma decisão política. Durante a campanha eleitoral o prefeito Vitor Lippi elegeu a juventude como prioridade, entendendo que a juventude é um grupo vulnerável a vários fatores de risco (violência, drogas, prostituição entre outros).

Ensaio: A Secretaria da Juventude não tem recursos próprios. Que tipo de trabalho é possível realizar assim?
Bramante: Ela ainda não tem recursos próprios porque foi criada recentemente e o orçamento é feito no segundo semestre do ano anterior. Já para o ano que vem nós teremos um orçamento próprio. O nosso trabalho visa articular programas voltados para uma política pública a ser desenvolvida para os jovens dentro da própria prefeitura, ou seja, executar ações por meio das outras secretarias.

Ensaio:Como o senhor avalia a atual condição dos jovens?
Bramante: A categoria “Juventude” inexistiu por muito tempo. Antigamente a pessoa era criança e logo se tornava adulta. Essa transição não era reconhecida. Hoje essa transição está cada vez se alongando mais. Porque as características das juventudes estão tomando vários formatos. Portanto, não existe a juventude, mas, sim, a juventude de acordo com a localização, o nível sócio-econômico e manifestação cultural.

Ensaio: E quanto à participação política desses jovens?
Bramante: Hoje os jovens têm todas as condições para uma maior participação, mas ao mesmo tempo ele se confronta com algumas situações de descrença na política por causa de exemplos frustrados, mas em geral, o jovem não deixa de acreditar e por isso é importante gerar a possibilidade de participação.

Ensaio: A falta de oportunidade na sociedade é o maior problema dos jovens?
Bramante: Sem dúvida é esse o problema causador dos demais problemas como a violência e outras atitudes ilícitas. Mas, muitas vezes, os grupos jovens são também excludentes.
Muitas vezes não aceitam o diferente, para você fazer parte de determinado grupo é você que tem de se adequar àquele pensamento ideológico, senão você está fora. Portanto, o protagonismo juvenil está em falta devido à combinação de falta de oportunidade com oportunidades excludentes.

Leitura obrigatória é questionada

Alunos consideram difícil a interpretação de clássicos nos vestibulares de todo o país

Marina Martins

“Veja o leitor a comparação que melhor lhe quadrar, veja-a e não esteja daí a torcer-me o nariz, só porque ainda não chegamos à parte narrativa destas memórias”. Lá iremos, afirma Brás Cubas, personagem principal do livro Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis. Esta é uma entre as diversas obras que os jovens deverão ler para as provas dos vestibulares, que já estão com as inscrições abertas.
Para muitos, a escolha dos livros que compõem a leitura exigida nos vestibulares deveria ser feita de forma diferente, como pensa o estudante Samuel de Oliveira Gonçalves, 20 anos. “Por terem uma linguagem antiga, a interpretação dos textos se torna difícil”, diz. A professora de literatura Edna Gonçalves concorda que a principal dificuldade dos alunos é em relação ao vocabulário “Não há como facilitar a leitura dos livros sem que os alunos se empenhem e é fundamental que eles sejam estimulados a ler a obra toda, para que entendam sua essência”.
Gonçalves também afirma que é preciso que o jovem se concentre no enredo e nos personagens, buscando uma mensagem para cada obra, além de estudar as características gerais dos autores e das escolas literárias das quais fizeram parte. Segundo a especialista, a ajuda dos professores é essencial para que o aluno não só compreenda, mas também se interesse pelos livros que lerá.
Para a estudante Grazieli Regina Marins, o contato com os livros é de extrema importância, pois na sua opinião as pessoas devem saber sobre sua história e conhecer os grandes escritores.
A professora de Letras e Literatura de curso pré-vestibular Rosileide Pedroso diz que a leitura faz com que o jovem adquira mais conhecimento. “Por meio das obras clássicas o aluno atinge um nível cultural mais elevado, tirando delas valores necessários para o seu desenvolvimento”, afirma.
Pedroso também aponta um fator para a escolha das obras, que é o fato de muitas serem consideradas universais, ou seja, possuem uma temática que não deixa de ser atual, com características que vão além de uma região ou país.
As professoras concordam que a leitura exige tempo e deve ser iniciada o quanto antes, além de ser uma grande oportunidade para se criar um vínculo com a literatura brasileira e passar a valorizá-la mais.

Veja na tabela abaixo a listagem oficial dos livros exigidos nos vestibulares de 2006 de algumas universidades do estado de São Paulo.


Unicamp
A Brasileira de Prazins-Camilo Castelo Branco
Os Cus de Judas-Antonio Lobo Antunes
O Demônio Familiar-José de Alencar
Brás, Bexiga e Barra Funda-Antonio de Alcântara Machado
Angústia-Graciliano Ramos
Manuelzão e Miguilim-Guimarães Rosa
Várias Histórias-Machado de Assis
Vestido de Noiva-Nelson Rodrigues


USP
Memórias de um Sargento de Milícias-Manuel Antônio de Almeida
O Primo Basílio-Eça de Queirós
Memórias Póstumas de Brás Cubas-Machado de Assis
Poemas Completos de Alberto Caeiro-Heterônimo de Fernando Pessoa
Macunaíma-Mário de Andrade
Libertinagem-Manuel Bandeira
Sagarana-João Guimarães Rosa
A Hora da Estrela-Clarice Lispector

Puc-SP
Memórias de um Sargento de Milícias-Manuel Antônio de Almeida
Poemas Completos de Alberto Caeiro-Heterônimo de Fernando Pessoa
Várias Histórias-Machado de Assis
Libertinagem-Manuel Bandeira
Estrela da Manhã-Manuel Bandeira
Macunaíma-Mário de Andrade
Sagarana-João Guimarães Rosa
Vestido de Noiva-Nelson Rodrigues

Em tempos de liberdade, jovens se calam

O movimento estudantil de décadas passadas conseguiu conquistar direitos, mas o que se vê hoje é a classe universitária desarticulada e sem visão crítica

Alex Alves Pereira

A militância dos estudantes hoje é muito diferente quando comparada com a de 20 anos atrás. Atualmente, vive-se em democracia. Todos podem manifestar seus anseios e exercer de forma livre sua cidadania, porém, a juventude parece desmotivada.
Gabriel Bitencourt, que foi líder do movimento estudantil e presidiu o diretório acadêmico da FAFI (Faculdade de Letras e Filosofia de Sorocaba), afirma que durante a ditadura os jovens se preocupavam mais com a sociedade. “Hoje, parece-me que os elementos de interesse imediato, como o valor da mensalidade, é que podem servir de agentes mobilizadores”. Ele ressalta, por outro lado, que há lideranças e organizadores estudantis comprometidas com seu papel social e político, e procurando despertar o interesse em seu grupo.
Para Bitencourt, a atual acomodação dos estudantes, no futuro pode mudar. “Acredito em caminhos futuros pautados pelo compromisso com as causas sociais e a ética”.
O ensino universitário no Brasil mudou, o que também contribuiu para a atual desmotivação dos estudantes.
De acordo com o INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do Ministério da Educação, 70,8% dos universitários estudam em instituições particulares, fato que não ocorria nas décadas anteriores, segundo o vereador e universitário Raul Marcelo. “Hoje a UNE (União Nacional dos Estudantes) ainda continua articulando as universidades públicas como a UNICAMP (Universidade de Campinas), UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), USP (Universidade de São Paulo) e as federais espalhadas no país”.
Para o vereador, a UNE deveria adotar uma política dirigida às universidades particulares e filantrópicas. As reivindicações são diferentes. O vereador cita como exemplo o fato de os alunos da USP estarem mais preocupados com investimento em pesquisas enquanto os da Uniso (Universidade de Sorocaba) querem xerox mais barato.
O psicólogo Ivonaldo Ribeiro diz que a USP ainda é uma das poucas universidades que brigam pela qualidade de ensino. “As agremiações que representam os estudantes de Sorocaba estão mais preocupadas em promover festas do que melhorar a qualidade do ensino”.
O assessor de comunicação do DCE (Diretório Central dos Estudantes) da Uniso, Eduardo Furlan, acredita que não se pode comparar universidade publica com privada. “Os interesses das faculdades públicas são diferentes dos das privadas. Segundo o professor da Uniso Juliano Mauricio de Carvalho, que foi presidente do DCE da PUC – Campinas, em seu tempo de universitário, os DCE´s e os CA´s (Centros Acadêmicos) tiveram um importante papel na política universitária, mas hoje estão sendo influenciados por partidos políticos. “O PC e o PCdoB estão liderando o movimento estudantil há duas décadas”, conta.
De acordo com o professor, cidadania não depende apenas de formação intelectual. “Se assim fosse, apenas pessoas graduadas em grandes universidades seriam bons cidadãos”, comenta. Para Mauricio de Carvalho, cidadania é algo que depende muito mais da cultura social do que da formação em si.

Valores dos tributos levam empresas à informalidade

De 4.743 empresas que se instalaram em Sorocaba em 2004, apenas 3.532 continuam funcionando

Danilo Villa Nova
Egle Lima
Fernanda Monteiro
Vanessa Rafaele

Os impostos no Brasil são altos, e os economistas confirmam. A conseqüência dos elevados valores dos tributos é a informalidade, quando empresários recorrem à ilegalidade para evitar o pagamento.
D.M.T., 22, é proprietário de uma pequena empresa prestadora de serviços. Ele precisa pagar, além dos 8% em impostos por cada nota fiscal emitida – 5%para o governo estadual (ICMS) e 3% para o governo municipal (ISS) – também o IPI, isso se assumisse que produz peças em sua empresa.
Pagar esses impostos inviabiliza o negócio, razão por que prefere sonegar e não emitir nota fiscal. “Faço isso para não fechar o mês no vermelho”, diz.
Para ele, a carga tributária impede as pequenas empresas de crescerem. De acordo com os dados da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, em 2004 foram abertas 4.743 empresas na cidade de Sorocaba, sendo que 1.211 encerraram as atividades devido aos altos valores de tributos que pagam para manterem-se. O ano encerrou com um saldo de 3.532 empresas em atividade.
Segundo o Instituto de Ética Concorrencial (ETCO), 40% de tudo o que é produzido no país tem origem no setor informal e 60% das empresas estão na informalidade, o que impede o crescimento econômico do país devido à carga tributária, que ocupa 34,4% do PIB brasileiro.
Uma pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que há, pelo menos, 14 milhões de brasileiros trabalhando na informalidade. São pessoas que não pagam tributos e não são registradas.
J.M.F. é um pequeno empresário do ramo de informática e não pode registrar seus funcionários porque, se passar de um determinado número, sua empresa passa de micro para empresa de pequeno porte, e os impostos aumentariam.
Para ele, a diminuição da carga tributária ajudaria a pagar os impostos, até o IPI, e daria a possibilidade de crescimento.
O professor de economia Carlos Monticelli diz que a formalidade custa caro, mas a realidade exige essa alta cobrança. “O governo não vai abrir mão dessas cobranças”, afirma. Ele concorda que, se o valor fosse menor, as empresas gastariam menos em tributos e poderiam empregar mais pessoas registradas. “Alguém, no entanto, precisa pagar os custos do país”, completa.
P.R. é proprietário de uma microempresa no setor de informática, tem seis empregados dos quais apenas quatro têm registro na carteira de trabalho, ou seja, são formalizados. Para cada salário de seus empregados registrados, ele paga 30% a mais (16% de INSS e 14% de FGTS), devido às taxas, impostos e direitos trabalhistas. Se a tributação abaixasse cerca de 50%, daria para contratar pelo menos mais um empregado.
O empresário reclama das taxas e cita, por exemplo, a dos sindicatos, que ficam entre 1% a 12% dos salários dos empregados.
Em nome da sobrevivência empresarial, P.R. deixa de regular a situação de dois funcionários, embora saiba que corre o risco de ser processado na Justiça do Trabalho.P.R. afirma ainda que a tributação chega a 30% no Brasil e, se fosse de 20%, ele acredita que aumentaria em um milhão o número de empregos formais, com um ganho de 18% para o governo.

Brasil recolhe mais de 34% do PIB em impostos

Danilo Villa Nova
Egle Lima
Fernanda Monteiro
Vanessa Rafaele

São poucas as pessoas que param para calcular o lar o quanto pagam de tos impostos por ano. Aqueles que tentam provavelmente se assustam com os resultados, pois desde a implantação do Plano Real, a arrecadação federal acaba de bater um recorde: foram R$ 31,649 bilhões contra os R$ 30 bilhões no mesmo período do ano passado, segundo dados corrigidos pela inflação.
A carga tributária incidiu 44% sobre o rendimento bruto do brasileiro. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2004 foi de R$ 1,8 trilhão, dos quais R$ 619,2 bilhões foram para os cofres públicos. Parece muito dinheiro, mas o professor e doutor em economia Manuel Payés ressalta que ser ou não ser muito é sempre relativo, depende do retorno. “Você observa, por exemplo, a má conservação das estradas, os problemas na saúde, na educação, saneamento básico, segurança, e pensa que está pagando muito e não está recebendo, daí fica caro”, diz.
Payés comenta ainda que se comparar a carga tributária brasileira com a de alguns países europeus, o valor é baixo. Porém, nos outros países, a qualidade de vida é diferente. Não há despesas, por exemplo, com o plano de saúde e educação, benefícios que incidem no retorno. A Suécia pode ser citada como exemplo, onde mais de 50% dos tributos recaem sobre o salário. No Brasil a tributação é quase tão alta quanto lá. E aqui não se usufrui das mesmas condições sociais que os suecos.
A Reforma Tributária, que já se encontra em discussão há algum tempo no Congresso Nacional, tem o propósito de reduzir a carga tributária, simplificar o sistema e reduzir o número de tributos, que passa de 100, mas ainda não foi aprovada e nem tem um formato definitivo.O economista concorda que a Reforma tem o intuito de melhorar essas deficiências existentes no sistema tributário brasileiro, do ponto de vista da justiça social e da economia. Mas, para ele, isso tudo esbarra em interesses políticos. O fato de pagar valores tão altos se explica pela concentração de renda no Brasil ser muito forte. “10% da população acabam ficando com a metade do bolo. Poucos conseguem se apropriar de quase tudo o que é gerado da riqueza”.

Conheça os principais impostos cobrados hoje no país

Impostos Federais
IRPJ (Imposto de Renda de Pessoa Jurídica): é pago por todos os empreendimentos que obtêm renda;
IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados): pago pelo dono da indústria sobre o produto;
II (Imposto de Importação): pago pelo importador;
IE (Imposto de Exportação): pago pelo exportador do produto;
IOF (Imposto sobre Operações de Crédito, Câmbio e Seguro ou Relativas a Tributos e Valores Mobiliários): recai sobre quatro operações diferentes – crédito, câmbio, seguros e aplicações financeiras;
ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural): pago pelo proprietário.

Impostos Estaduais
ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços): o valor de seu percentual varia de Estado para Estado. Quem paga é qualquer pessoa ou empresa que realize operação de circulação de mercadorias sobre a qual recaiam impostos;
IPVA (Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores): é um imposto anual que incide sobre a propriedade de carros, aeronaves, embarcações, entre outros. É pago pelo proprietário do veículo;
ITCMD (Imposto de transmissão Causa Mortis e Doações): é um imposto que incide sobre a transmissão de qualquer bem herdado, ou ainda qualquer tipo de doação. Quem paga é qualquer uma das partes envolvidas.


Impostos Municipais

ISS (Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza): incide somente sobre os serviços especificados pela prefeitura. É pago por prestadores definidos pelo município;
IPTU (Imposto Predial Territorial e Urbano): é pago pelos proprietários de imóvel na zona urbana do município;
ITBI (Imposto sobre Transmissão Inter Vivos de Bens Imóveis): no caso de transmissão de propriedade, quem paga é o comprador. No caso de doação, quem paga é aquele que cedeu.

Fonte: Guia Valor Econômico de Tributos

Os números do país dos impostos

Os números do país dos impostos

225,6 mil regras tributárias foram criadas pelos governos federal, estadual e municipal em dezessete anos de Constituição.

R$ 20 bilhões
Foi a quantia que as empresas brasileiras tiveram que pagar no ano passado só para cobrir os gastos no cumprimento da burocracia fiscal e acompanhamento das mudanças na legislação.

37,5% deve ser o percentual do PIB que a carga tributária alcançará neste ano, ou seja...
R$ 2,66 trilhões arrecadados da sociedade brasileira até o final do ano.

554 normas tributárias gerais são editadas por dia, o que significa aproximadamente...
23 normas por hora. Fonte: IBPT

Sonegação mantém fundos indevidos

Fernanda Monteiro
Vanessa Rafaele

Caixa 2, método utilizado por pessoas físicas e jurídicas para escapar dos tributos, movimentou mais de R$ 1 trilhão em 2004 no país. Esse alto valor é mantido quase que, exclusivamente, pelo não pagamento de tributos, que já atinge 29% das companhias instaladas no país, segundo o Instituto de Planejamento Tributário (IBPT).O dinheiro para o Caixa 2 é ilícito, ou seja, além de não ser declarado à Receita Federal, pode ter origem suspeita, e por isso é mantido em paraísos fiscais.
Segundo o dicionário da economia, paraísos fiscais são “zonas econômicas, onde a regulamentação fiscal e monetária das atividades bancárias é leve ou até inexistente”. Os exemplos são Suíça, Luxemburgo e Panamá, onde o sigilo bancário do correntista é garantido.

População reclama do sistema de transporte

Sorocabanos citam a superlotação e o valor do passe como principais problemas

Daniele Fernandes

Milhares de pessoas utilizam o sistema de transporte urbano de Sorocaba. Só nos dois terminais da cidade, Santo Antonio e São Paulo, as catracas registram em média um movimento diário de 33 mil pessoas. A informação é da Empresa de Desenvolvimento Urbano e Social (Urbes). Ainda segundo a empresa, Sorocaba possui uma frota de 327 ônibus para atender às necessidades da população, sendo que o horário de maior fluxo de pessoas é entre as 16h e as 22h, quando passam pelo terminal Santo Antonio 200 ônibus por hora, alguns deles mais de uma vez. Os usuários reclamam de superlotação, valor do passe e da distribuição dos horários. O estudante Alex Diego Barbosa, 19 anos, comenta que o transporte de Sorocaba está longe de ser um dos melhores do estado, uma vez que os horários das linhas são mal distribuídos, o que gera filas e superlotação. Passageiros do bairro Caguaçu também estão insatisfeitos como os horários disponíveis para essa linha. De acordo com o presidente da Urbes, Renato Gianolla, a oferta de horários de uma linha é relacionada de acordo com a população de cada bairro, ou através de um intervalo máximo definido. Gianolla ressalta que os horários são montados para atender à entrada e saída de trabalhadores e estudantes. ele afirma ainda que a linha 69 Caguaçu opera com quatro pares de horários em dias úteis, pois por se tratar de um bairro rural a demanda é muito pequena. Sobre a questão da superlotação, Gianolla enfatiza que o sistema é dimensionado para operar dentro do limite da lotação nos horários de pico, nas linhas onde a demanda é maior. Outro ponto abordado pelos usuários de coletivos foi o valor do passe. Na opinião do estudante Jefferson da Silva Pinheiro, do Jardim Monterrey, o transporte de Sorocaba é muito caro. “É um abuso o passe custar R$2,00”, dispara. Gianolla justifica afirmando que a tarifa do transporte coletivo é baseada na Planilha de Custos do Sistema que possui itens como: gastos com combustíveis, pneus, peças, despesas gerais e administrativas. “A elevação dos preços dessa planilha precisa ser repassado para a tarifa do transporte”, diz. Ele ainda faz questão de lembrar que Sorocaba é uma das poucas cidades que permite as pessoas se locomoverem de um terminal para outro, utilizar mais de um ônibus, com apenas um passe no valor de R$ 2,00. Já Sirlei Rodrigues, moradora da Vila Carol, reclama das condições de conservação dos coletivos. Gianolla explica que os ônibus passam constantemente por uma manutenção quando necessário são substituidos por outros.

Estresse gera problemas na rede de ensino

Aumenta o número de professores afastados para tratamento psicológico

Alessandra Camargo

Crises de tensão aguda, depressão, síndrome do pânico. Estas são algumas das doenças causadas pelo estresse. Na profissão de professor não é diferente, principalmente na rede pública de ensino.
Salas de aula superlotadas, falta de respeito, escrúpulo e educação da maioria dos alunos, das redes estaduais e municipais de ensino de Sorocaba têm levado cada vez mais professores a pediram afastamento por doenças provindas do estresse.
Com jornadas de até 64 horas semanais, alguns acabam sendo afastados e muitas vezes não conseguem voltar a lecionar. Um professor da rede estadual de ensino ganha R$5,85 reais hora/aula e quando pedem licença ou são afastados, acabam perdendo os benefícios como férias, licença-prêmio e outros.Para alguns acaba não sobrando dinheiro.
Na APEOESP, Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, sede de Sorocaba, a professora de matemática Isabel Martinez, 20 anos de profissão, diz estar se recuperando de uma depressão que a deixou afastada um ano.
De volta à ativa, Moreno diz que a maior causa de doenças psicológicas e crises de estresse provêm da falta de limite dos alunos.“Eles não me deixavam explicar a matéria e quando eu pedia para que saíssem da sala, nem escutavam”, diz Isabel, referindo-se à arrogância de alguns alunos da escola estadual onde lecionava.
A professora afirma nunca ter sofrido nenhum tipo de agressão física, mas já presenciou muitas sofridas pelos colegas de profissão.“Já vi alunos jogando a carteira no professor e outros os empurrando até caírem no chão”, recorda Isabel. Ainda segundo a professora, há anos atras, os jovens tinham pai, mãe e irmãos em casa e existia uma certa hierarquia familiar que servia para educar e ensinar. “Atualmente para muitos pais e para a maioria dos alunos, o papel do professor é educar e se não consegue fazer isso, sofre uma pressão muito forte”, afirma Martinez.
Para Ana Laura Pereira Camargo Moreno, 36 anos e há cinco lecionando Educação Física, o maior interesse dos alunos na disciplina é a chave para não haver tanto abuso e falta de respeito. Segundo ela, nas aulas de Educação Física quando ocorrem demonstrações de rebeldia ou falta de limite, estas são geralmente mais agressivas que em outras disciplinas.
“O contato com o aluno é maior e demonstram muita violência entre eles e acabam descarregando os problemas geralmente familiares no professor”, comenta Ana Laura conta que nunca chegou a ser agredida por alunos, mas já teve seu carro riscado enquanto estava dando aula. A professora lembra que certa vez presenciou alunos seus no telhado da escola. “Parecia uma rebelião da Febem”, compara Moreno.
Para as duas professoras, o que teria que ser mudado para que os professores da rede pública fossem mais valorizados e respeitados é o sistema de ensino.
Ana Laura comenta que à medida que os pais deixam seus filhos em casa para trabalhar, estes ficam com a sensação de liberdade e quando chegam na escola pensam que podem tudo.
Outra fonte de estresse é a falta de apoio da direção das escolas. “Na escola onde eu trabalhava, a direção muitas vezes dava apoio ao aluno em algumas demonstrações de rebeldia”, declara Isabel. Ela diz ainda que no 3º colegial há um número menor de indisciplinas que na 8ªsérie, embora os atos indisciplinares do colegial sejam mais graves.
Elas também reclamam que os professores da rede pública não possuem nenhum tipo de apoio psicológico, neurológico e dermatológico, este último para professores que apresentam alergia a giz.
A falta desses profissionais e também de planos de saúde faz com que os professores com problemas psicológicos ou estresse tenham de pagar os tratamentos do próprio bolso. Muitos deles procuram as Santas Casas ou optam por profissionais particulares.
Isabel, por exemplo, utiliza há um ano 60mg de um medicamento antidepressivo e diz que o acesso de professores a psicólogos e psiquiatras da rede pública de saúde é muito difícil.
Ana e Isabel, de duas gerações diferentes, disciplinas distintas, têm um pensamento semelhante: o de que o professor de hoje é um “centro de cobranças”, dos alunos, das diretorias e deles próprios. Por outro lado, elas não perdem a esperança de um novo método de ensino e nem o amor pela profissão que escolheram.

Sorocaba fere Estatuto da Criança

OAB de Sorocaba aponta irregularidades no atendimento a menores infratores na Cadeia Participativa, que vão desde insalubridade até a falta de apoio pedagógico

Fernanda Marques Dorta

Maria Margarida Ribeiro, de 36 anos, é mãe de J.T.R.F de 16 anos, que foi apreendida por suspeita de tráfico de drogas. Ela diz não ter condições de visitar sua filha que está internada na unidade da Febem, em São Paulo. “Estou numa situação complicada, pois J. tem um filho de oito meses, que fica comigo. Ele sente falta da mãe”. Segundo Margarida, durante os cinco dias em que sua filha ficou na Delegacia Participativa, ela só tomou um banho. “É muito triste o que aconteceu com ela, que infelizmente se deixou levar pelas más companhias”. O caso de Ribeiro não é único. A presença da família é importante na recuperação de adolescentes infratores, no entanto, isso não ocorre apesar de o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) prever que as unidades devem favorecer o contato com a família.Para as meninas o problema é maior, já que Sorocaba não possui unidade feminina.De acordo com a advogada Maristela Monteiro Pereira, membro da comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Sorocaba, é importante a vinda de uma nova unidade da Febem para o município, pois existem muitas adolescentes da região que estão em São Paulo.“É preciso que o município cuide de seus adolescentes”, afirma a advogada.
O delegado titular da Infância e da Juventude de Sorocaba, José Augusto de Barros Pupin, concorda. “O objetivo é reintegrar o adolescente à sociedade, mas como vai ocorrer essa reintegração se ele está em São Paulo e sua família em Sorocaba?”. Pupin explica que quando a menor é apreendida, ocupa um espaço em uma celinha de três metros quadrados na delegacia participativa, aguardando uma vaga na unidade de atendimento inicial na Febem de São Paulo. O certo seria que ela fosse para uma Unidade de Atendimento, com atividade pedagógica e acompanhamento de assistente social, no próprio município. “O atual procedimento é totalmente negativo, pois contraria o ECA”, diz

Irregularidades
O relatório divulgado no dia 26 de agosto deste ano por membros da comissão de Direitos Humanos da OAB em Sorocaba, confirma irregularidades no atendimento aos adolescentes infratores recolhidos na Cadeia Pública de Salto de Pirapora e na Delegacia Participativa de Sorocaba. Segundo o presidente da comissão, Luis Henrique Ferraz, ocorre um total desrespeito ao que o ECA prevê, desde condições de insalubridade até falta de atendimento pedagógico.
Uma das recomendações da comissão é a implantação de um Núcleo de Atendimento Integrado (NAI) em Sorocaba como já acontece nas cidades de São Carlos, Ribeirão Preto, Americana e, mais recentemente, em Bauru.
Atendendo à pedidos de autoridades de Sorocaba, o prefeito Vitor Lippi aprovou no dia 19 de setembro a implantação de um Núcleo de Atendimento na cidade. “Com o modelo você consegue uma socialização dos jovens infratores num porcentual maior”, diz o prefeito.A deputada estadual Maria Lucia Amary (PSDB), que integra a Comissão da Educação da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo confia no projeto.“Isso é a humanização do atendimento aos adolescentes infratores, pois acredito na recuperação desses jovens, principalmente estando próximos da família”, comenta a deputada sorocabana.

Febem recupera 85% dos meninos
Diferente das meninas, os meninos têm uma unidade de internação provisória, que está lotada.
A Febem de Sorocaba comporta atualmente 96 adolescentes. Considerada unidade modelo do estado de São Paulo recupera 85% dos internos. Lá são realizadas atividades pedagógicas e oficinas como pintura, fotografia, capoeira, além de cursos de ajudante de cozinha e garçom, entre outros. Os adolescentes passam em média um ano internados e saem com uma profissão que não tinham quando entraram. Segundo o promotor da Curadoria da Infância e da Juventude, Antônio Domingues Farto Neto, não basta ter adolescentes ociosos dentro da unidade, é preciso que eles tenham aula do ciclo normal para permitir que saiam preparados para voltar à escola.
D. A., de 16 anos, está internado há um ano. Ele diz que a primeira coisa que vai fazer ao sair da unidade é arranjar um emprego para ajudar sua mãe.O menor acha as aulas de informática boas para se manter informado sobre o mercado de trabalho.
Segundo a assistente social da Febem de Sorocaba, Maria Lucia Gomes, os adolescentes se envolvem com as atividades para esquecer os problemas e porque realmente gostam das atividades.

Enfim é sexta-feira!

Enquanto uns vão para a balada, outros dão início à jornada de trabalho

Gustavo Merici

É sexta-feira, fim de expediente, as pessoas se preparam para as noitadas do final de semana. Por opção ou necessidade, enquanto alguns saem para se divertir, há quem se despeça da família para começar uma jornada de trabalho.
Luciano Costa sempre trabalhou à noite. Era enfermeiro, agora é bartender. “Foi difícil conciliar. Trabalhar como bartender foi uma questão de diversão, nem tanto pelo dinheiro, mas sim por gostar das festas na noite”, afirma. Para receber a mesma quantia que ganhava como enfermeiro, Costa trabalha mais de 12 horas. “Chego a entrar às 16h e saio às 7h. Como enfermeiro ganhava R$ 1.300,00. Para receber isso como bartender trabalho em mais de três casas”, diz.
Segundo ele, a adaptação à vida noturna depende do apoio familiar. “Sou casado e tenho uma filha, quando minha esposa reclama, tiro três dias de folga e fico em casa, mas é complicado”, relata.
Na sua profissão, o que mais o desagrada é a confusão que o público faz do barman com a pessoa que apenas serve a bebida. “O bartender é o gourmet da bebida, ele não apenas serve, mas também prepara e degusta novos drinques”, explica. Além disso, segundo ele, a concorrência é desleal. “Tem colegas de profissão que trabalham por valores mais baixos, diminuindo o salário dos outros”, fala. Mas há também os que trabalham por necessidade. É o caso de Miro Stivanelli, segurança há mais de 20 anos. Sem registro, direitos trabalhistas, com carga horária de até 12 horas, não ganha mais que R$ 30,00 por noite. “A maioria dos seguranças trabalha como um complemento, nós não vemos a hora de chegar o final de semana para ganhar um extra”, afirma. No período diurno ele é segurança numa agência bancaria.
Stivanelli é casado e tem dois filhos, que nasceram quando o pai já trabalhava em dois turnos. Para evitar confrontos familiares, ele não deixa de estar presente nos aniversários e datas especiais. “Este é um dos segredos para a boa convivência com a família, pois o apoio dela é fundamental”, revela.
Neste mercado de trabalho há anos, Stivanelli afirma que está mais fácil trabalhar atualmente, pois as brigas são mais isoladas. “A maior parte das brigas acontece quando um cara mexe com uma mulher acompanhada.Eu cheguei a rolar escada abaixo apartando briga”, conta o segurança.
Sendo segurança de casa noturna, Stivanelli teve que se habituar com as músicas tocadas nas festas. “Eu só não me acostumei com o Hip Hop, mas quando termina a balada o ouvido ainda está zunindo, pois o som penetra na cabeça”, diz.
Os dois dormem de três a quatro horas por dia e tiveram que aprender a se relacionar com a família. Mas ambos concordam que independente dos problemas, o mais gostoso de trabalhar na noite é o contato com o público, conhecendo vários tipos de pessoas com as mais variadas personalidades e fazendo novas amizades.

Artesanato sorocabano por um fio

Poucas vendas fazem artesãos de carros de boi, redes, e arte raízes procurarem outras fontes de renda para se manterem

Mariela Almeida

O artesanato típico de Sorocaba está desaparecendo. Sem conseguir sobreviver do trabalho artesanal, os artistas são obrigados a buscar outras fontes de renda. É o caso de Marcos Antônio de Oliveira, 38. Ele foi o único, dos nove filhos de Miguel Gregório de Oliveira que herdou o talento para entalhar a madeira criando os carros de boi. Após trabalhar muitos anos em feiras de artesanato e não ganhar o suficiente para o sustento da família, Oliveira hoje trabalha no presídio da cidade e faz artesanato nas poucas horas que lhe restam.
Além de entregar suas peças para terceiros revenderem, ele afirma que o que mais gosta é expor na beira da estrada. “As pessoas fazem minha propaganda nas cidades onde moram e acabam voltando para comprar mais”.

De artesão a jardineiro
Nascido em Piraju, Aníbal José Ribeiro, 67, cultiva a arte em raízes de árvores que aprendeu desde pequeno. Participou do evento “Revelando São Paulo”, no parque da Água Branca, na capital, e teve seu trabalho exposto na Bienal de São Paulo, chegando a exportar para Portugal, Japão e Estados Unidos.
A média de ganho com artesanato era de R$120,00 reais. Em função do baixo lucro com artesanato, decidiu então trabalhar com jardinagem e paisagismo, chegando a ganhar em torno de R$300,00 reais. Fundador da feira de artesanato de Sorocaba, hoje sua arte transformou-se em hobby.
Criada em 1989, a Associação do Artesanato de Sorocaba visava padronizar as feiras e as barracas e lutar pelos direitos dos artesãos. Na época, a feira principal era realizada na Praça Coronel Fernando Prestes. Com a reforma da praça central, a feira passou a ser realizada no Fórum Velho e alguns artesãos, descontentes, se uniram e formaram uma segunda.No geral, as duas buscam os mesmos objetivos.
Além destas organizações, existe uma comissão que é formada por dois representantes das Associações, um da Secretaria da Cultura, Secretaria do Trabalho, Secretaria do Desenvolvimento Econômico e Fundo Social. É através dessa comissão que eles recebem apoio para a realização de feiras regionais e eventos.
A presidente de uma dessas associações, Maria de Fátima Lima Pico, 47, é a única artesã que manteve as origens da famosa fábrica de tecidos Cianê.Ela trabalha com tapetes e redes há mais de 12 anos.
Fátima expõe em feiras da cidade e afirma que ainda assim não dá para sobreviver apenas deste trabalho.Esta é a realidade, segundo ela, de 80% dos expositores.Um dos problemas que ela enfrenta é a desvalorização do produto.”Existem pessoas que querem pagar os tapetes que faço pelo preço de industrializados, por isso o artesanato se torna difícil”, diz.

Campings se estruturam para atrair novo público

Com cara de hotel e clima campestre, estabelecimentos atraem público estrangeiro e ganham lugar no Conselho Nacional de Turismo

Michelly Fontes
Patrícia Garcia

O primeiro camping do Brasil foi inaugurado há 30 anos em Sorocaba. Na ocasião, atrações e conforto eram limitados, era aquela coisa de pegar a mochila, sair com a barraca e acampar.
Hoje isto mudou. Os campings e pousadas estão cada vez mais estruturados e com mais serviços desde estadia e refeições até passeios e cavalgadas. Alguns superam hotéis espalhados pelo Brasil e saem ganhando pelo baixo custo de estadia. Por esse motivo os campings e pousadas acabam de ganhar um assento fixo no Conselho Nacional de Turismo e passaram a ser reconhecidos como meio de hospedagem.
Segundo a especialista em sociologia do lazer e animação sócio-cultural e professora da Uniso, Marcelia Valente, camping é uma estrutura e uma alternativa para as pessoas que querem viajar e não têm grande poder aquisitivo.
O presidente da APC, Associação Paulista de Campismo, Lino Carrion Manteiga, reforça essa idéia dizendo que acampar é um luxo e ao mesmo tempo cabe no bolso dos brasileiros. Ele chama atenção para o fato de cerca de 70% dos brasileiros acostumados a viajar ao menos uma vez por ano desconhecerem o conforto desses lugares. “Estas estatísticas vêm mudando com o tempo”.
O campismo cresce e no Brasil há um campo fértil para essa atividade, segundo Luiz Edgar Tostes, diretor da ABRACAMPING – Associação Brasileira de Campismo. “Especialmente para turistas estrangeiros que buscam novas opções de ecoturismo pouco exploradas e muito atraentes”, comenta.
Tostes explica que a prática do campismo não é só lazer, mas também uma forma de conhecer novas pessoas e uma maneira de interagir com a natureza e os vários campings da região proporcionam muito bem essas duas coisas.

Para curtir e relaxar
Quem procura um ambiente bem calmo e familiar, onde as crianças ficam livres para correr e brincar encontra no camping Chapéu do Sol, uma excelente. Lá há campos de futebol, saunas, salão de jogos, tirolesa, restaurantes, chalés e playground. Para aqueles que são o agito em pessoa, o camping Cabreúva é o lugar ideal para se instalar. Com piscina natural, lagos, pedalinhos, cachoeiras, parque aquático, esse local é muito visitado por pessoas de várias idades que não gostam de ficar paradas. Monitores especializados acompanham os campistas em atividadescomo exercícios e caminhadas.
Já o camping e pousada Fazenda das Pedras, além dos normais freqüentadores há grupos familiares e de amigos, atrai praticantes de atividades como trekking. E há também parque aquático, quadras de vôlei de areia, salão de eventos além de cavalos, pôneis e charretes. Segundo Rita Zacharias, gerente, os campings da região são muito bem estruturados, e cada um com suas características.